segunda-feira, 12 de março de 2012

MOEDAS E O AJUSTAMENTO



O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro Carlos Moedas congratulou-se, hoje, em Beja, com o que na sua opinião constitui um ajustamento muito mais rápido do que o esperado da economia portuguesa na sequência do resgate financeiro. O motivo do otimismo do membro do Governo situa-se no comportamento descendente do défice da balança de transações correntes, que terá passado pela primeira vez durante pelo menos uma década para menos de -10% do PIB.
Os números não se discutem, correspondem a informação o mais atualizada possível. O que vale a pena discutir é a relação que pode existir entre esse comportamento de redução do défice externo corrente e a utilização de instrumentos de política governamental.
Ora, um contributo relevante para esta redução situa-se no recuo das importações. Simplesmente, este recuo tem a sua origem não nalgum instrumento específico de política, mas tão só e principalmente na redução do consumo interno e do investimento, a qual, principalmente no que toca ao investimento e devido ao conteúdo em importações tem por implicação consequente a redução das importações. Por outras palavras, é o próprio efeito recessivo da economia, imposto essencialmente pela natureza da disciplina fiscal e pela contração do rendimento líquido que puxa as importações para baixo.
A outra, essa bastante mais favorável, vem obviamente do comportamento das exportações que têm evidenciado o que neste espaço temos designado por resiliência não em termos globais do setor exportador, mas sobretudo de empresas que se têm adaptado melhor quer aos novos da globalização, quer sobretudo ao fardo competitivo de um euro sobreavaliado face ao nível de desenvolvimento económico do país. Mas se quisermos ser rigorosos não encontramos nos últimos meses e por agora qualquer instrumento de política que se destaque como uma forma de apoio providencial ao setor exportador. Hoje mesmo parte deste setor pronunciou-se criticamente contra a evolução crescente dos períodos de reembolso mensal do IVA às empresas exportadoras e não será por acaso que o Ministério das Finanças não publicou dados mensais que, pelos vistos, existem sobre esses períodos de reembolso.
Pela minha parte, tenderia a imputar esta resiliência do setor exportador mais lúcido, inovador e resistente ao processo de mudança estrutural, ainda inacabado e insuficiente na sua escala de incidência, observado ao longo da tal década de crescimento anémico que os anos 2000-2010 terão representado.
Que o Partido Socialista, incompreensivelmente até para alguns comentadores como Marcelo Rebelo de Sousa, se tenha dissociado dessa evidência e não tenha invocado qualquer quota-parte de influência, já não me surpreende, tamanha é a incapacidade de avaliar distanciadamente, para o bem e para o mal, os efeitos da sua governação. Limita-se a reagir quando é acossado pelos acontecimentos. Verdadeiramente, a política económica da última governação deu sinais contrários. Projetou-se excessivamente no favorecimento dos não transacionáveis quando o setor exportador em mutação necessitaria de apoio mais sistemático. Por isso acaba por ficar o que tenho vindo a designar de resiliência empresarial, o que mostra que Portugal está longe de corresponder ao discurso catastrofista da desindustrialização total. Essa resiliência é tanto mais relevante quanto no memorando do resgate financeiro e na sua aplicação em concreto pela atual governação não existe intervenção que se veja sobre o setor exportador. Aliás, só agora, timidamente e com as dificuldades de um Ministério da Economia bastante perro, é que se começa a ouvir falar finalmente das primeiras linhas de crédito bancário focadas no setor exportador e no potencial de internacionalização de mercados. Para memória futura.

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