E segue sem parar! Semana após semana, aí está mais e mais lixo a ser trazido à tona, entre “gaffes” e atropelos, pecados veniais e viciações sem perdão, velhos e novos casos. Uma sociedade à deriva, desorientada, doente, quase perdida, uma espécie de lugar em que parece valer tudo. Cunhas e favores, autorizações e acumulações, partidarites e corporações, conluios e discricionariedades, sussurros e primeiras páginas, chico espertices e irresponsabilidades, acusações e investigações, historietas e negociatas, escapadelas e promiscuidades, escândalos e aproveitamentos, crimes e corrupções, eis apenas algumas das variadas componentes da venenosa seiva que hoje alimenta e corrói o País. Um espetáculo a que vamos assistindo, incrédulos e impotentes, sempre na vã expectativa de que “desta vez bateu mesmo no fundo e doravante só vai poder melhorar”.
Esta semana foi só mais uma a somar a todas as anteriores. Lendo a opinião dos jornais do fim de semana, no “Expresso” ou no “Público”, a inspiração dos nossos melhores comentadores recai cada vez mais sobre as mesmas “musas” sinalizadoras de uma confrangedora fragilidade institucional:
· Clara Ferreira Alves (“Um mergulho no lodo”) refere o caso Freeport, cujo “julgamento, pelo que vai pingando para os jornais, é um retrato deste país pequeno, em que tudo se compra e todos estão à venda” e um entre muitos “escândalos de alta e brutal corrupção sobre os quais nunca chegaremos a saber a verdade”.
· José Pacheco Pereira (“Está o Estado a tornar-se mais forte ou mais fraco?”) elege “um exemplo menor num mundo maior, o das Finanças, onde o autoritarismo do Estado e o chicote antecedem a informação e a normal relação entre a administração pública e os cidadãos”.
· Nicolau Santos (“Cem por Cento”) pega no caso Freeport numa outra perspetiva: “A questão é saber se alguém recebeu dinheiro para autorizar a sua construção numa área de reserva natural. Charles Smith e Manuel Pedro são os arguidos. Certo? Errado. É José Sócrates que continua a ser julgado em resultado de um conúbio lunar de alguns jornalistas, alguns polícias e alguns magistrados judiciais.”
· Miguel Sousa Tavares (“Coisas que não dignificam”) vai até ao Parlamento: “A história da formação da comissão parlamentar de inquérito ao BPN, que esta semana tomou posse, é exemplar do tipo de situação que desprestigia o Parlamento e a classe política.” Acrescentando: “O que não está contado, não se compreende e levanta legítimas interrogações é a história da sua privatização [do BPN]. Ao fazer finca-pé na garantia de que os trabalhos da comissão nada pudessem concluir sobre este negócio da privatização antes de ele estar concluído e consumado, o PSD mostra exuberantemente o que entende por interesse público.”
· Ricardo Costa (“Perdeu, foi-se embora mas não nos deixou”) aponta o dedo a uma justiça caótica: “O caso da magistratura é o mais grave. Incapazes de investigar decentemente o ‘Freeport’ – ou de ter a mínima ideia do que é um prazo –, os magistrados do Ministério Público fizeram tudo para deixar no ar que o caso não estava encerrado E ainda hoje ouvimos as testemunhas de 2005 falarem como se fosse a primeira…”
· Vasco Pulido Valente (“A política não se ‘limpa’ assim”) prefere acentuar o perigoso risco de despiste que impende sobre a justiça: “Mas nada explica que a Procuradoria-Geral da República e os tribunais tomem sobre si o encargo de fazer justiça em matéria política: um serviço que obviamente lhes não compete e que, levado ao extremo, pode alterar o equilíbrio constitucional da República.”
As convergências tornam-se assim preocupantemente crescentes. Como no que toca à denúncia do foco “ad hominem” presente no tema explorado por VPV, mas igualmente aflorado por NS (“Pelos vistos, é muitíssimo mais urgente crucificar Sócrates, mesmo sem provas, do que defender o dinheiro dos contribuintes, com provas evidentes”) e também firmemente corroborado por RC (“Sócrates nunca soube lidar com a justiça, mas a justiça não para de fazer figuras bizarras quando se trata de Sócrates”).
Uma denúncia que MST defende dever ser estendida de um para catorze. Assim: “Ora isto, meus caros amigos, é sim uma abusiva utilização de poderes judiciais para fins de vingança corporativa e nada mais do que isso. A drª Morgado, ao receber a queixa, deveria ter feito aquilo que faria tratando-se de uma queixa de um cidadão comum: dizer aos senhores juízes que ela não estava em condições de ser recebida. E porquê? Porque não se pode pegar num monte de documentos de despesas de gabinete [obtidos ‘com a ajuda dos seus colegas dos tribunais administrativos’], com cobertura legal, e suspeitar, em abstrato, que todos os membros do governo que tinham direito a essas despesas as utilizaram indevidamente. Como os senhores juízes muito bem sabem, não há crimes coletivos de governo, a menos que os queiram acusar de associação de malfeitores: os senhores teriam de dizer na sua queixa quem era suspeito de que crime, como, quando e porquê, e quais os documentos concretos e identificados que sustentavam as suspeitas.”
E o carrocel não dá quaisquer mostras de terminar de andar à roda (a ilustração que a propósito acima se reproduz é da autoria do cartoonista Luís Afonso em http://www.sabado.pt) e de fazer com que “esta merda” – a reveladora expressão com que MEC nos qualifica coletivamente em entrevista ao “Expresso” – possa alguma vez voltar à linha de partida para encetar uma cada vez mais ansiada “nova corrida, nova viagem”…
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