No que é uma raridade já há algum tempo,
estarei amanhã em Castelo Branco, a convite do PS, para participar numa discussão
sobre a construção de uma prioridade política para o interior. O esvaziamento
político e a orfandade em termos de políticas públicas a que o tema tem sido
votado justificam a minha participação, num contributo possível para colocar a
questão no debate político. No fundo, tentarei retomar ideias avançadas nos
trabalhos de elaboração do Plano Regional de Ordenamento do Território da Região
Centro que tive o prazer de coordenar e que estranhamente aguarda publicação não
se sabe bem onde.
Independentemente do tema merecer novas
visitas neste espaço, colocarei à discussão, numa intervenção que antecederá a
intervenção política final, uma mensagem que terá os seguintes pontos
organizadores:
- O interior é uma projeção de uma questão mais geral, a baixa densidade, sendo necessário distinguir entre territórios de baixa densidade com proximidade a aglomerações urbanas relevantes e a baixa densidade “longínqua” que poderemos identificar com o interior;
- O interior continental tem de ser repensado em função de novas centralidades e a relação com o imenso território espanhol não pode ser ignorada, mesmo que a debilidade da raia espanhola não ajude;
- · É necessário contrariar a ideia de que as TIC e o acesso ao mercado global (on line) fizeram desaparecer a ideia de interior, pois as TIC são meros instrumentos para atração de atividades que os constrangimentos destes territórios continuam a penalizar;
- Uma prioridade política para o interior não pode ignorar duas mudanças estruturais na sociedade portuguesa cujo peso e duração são tema para mais de uma legislatura, senão de duas;
- Essas mudanças são a demografia do envelhecimento e a evolução estrutural da agricultura;
- A primeira, associada a um recuo prolongado da fertilidade e a um prolongamento da vida, coloca desafios particulares aos constrangimentos conhecidos destes territórios; mas pode abrir oportunidades de captação de novos residentes que podem minimizar o fenómeno de despovoamento;
- A segunda tem uma projeção particular nos territórios interiores. Duas agriculturas emergem: a competitiva que perde progressivamente ligação às características do meio e fica submetida a critérios de utilização económica que se sobrepõem ao determinismo do uso do solo; a agricultura “território” que nos transporta para a construção do desenvolvimento rural;
- “A questão central do desenvolvimento rural não é apenas criar riqueza e emprego. A questão é fazê-lo não marginalizando os que vivem e trabalham no rural ou que aí se pretendem enraizar” (Prof. Oliveira Batista);
- Elementos para uma nova prioridade política:
o
Interior, reorganização de serviços públicos
e da administração local
o
Captação de novos residentes;
o
Interior e equidade territorial: a
sustentabilidade e a economia de baixo carbono;
o
Competitividade e questão social: o exemplo
da economia do vinho do Douro.
Desenvolverei especialmente o tema da reorganização
dos serviços públicos e da administração local, processos bem mal tratados por
uma lógica restrita de racionalidade económica, sem qualquer sensibilidade aos
desafios da ruralidade interior. A necessidade de suster os processos de
encerramento segmentado de serviços à luz de uma visão integrada destes territórios,
que acentue a sua relação com os sistemas urbanos locais, a acessibilidade e
mobilidade e sobretudo o desenvolvimento de proodutos – marca – território deve
ser um pilar de uma nova prioridade.
Veremos o que dá o confronto destas ideias
com as posições de gente como Luís Braga da Cruz, Alfredo Marques, Joaquim Mourão,
Fernando Paulouro, Miguel Cabrita, Carlos Assunção e outros. E até que ponto
suscitam no PS alguma perspetiva mais consistente sobre estes territórios, com
algum futuro de esperança para os que teimam em lá viver e aí enraizar-se.
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